A Dança. O que dizer da origem da dança? Ainda que se tentem fugir de interpretações subjetivas, o próprio ato de dançar provoca reações físicas no corpo que fazem o espírito desvencilhar-se da materialidade e da artificialidade. E reconhecendo a busca deste estado de espírito - que se pode chamar de transe – encontramos relações com as primeiras manifestações de dança.
A História não possui registros tão precisos para determinar as origens da dança. É possível reconhecer, no entanto, nos registros rupestres, a presença de celebrações através de imagens onde o corpo (representação em desenhos) toma forma de movimentos, e então relacionamos à dança, onde esta tem sentido sagrado, manifestando-se naturalmente, com inspiração individual.
Com a organização coletiva, no surgimento de comunidades e cidades, onde o homem se identifica com seus semelhantes, a dança está presente como parte da vida social. E junto com a organização comunitária do homem, a dança ganha conotação litúrgica, fixa e coreográfica, com requintes de invenção humana.
O homem passa da inocência natural para a consciência de suas habilidades de produzir e criar e, então, o ego humano fala mais alto e a dança vira instrumento de dominação, à medida que cada grupo humano com sua dança que o identifica, impõe a outro grupo as suas características culturais, quando em contato um grupo com outro.
A dança deixa de ser um ato sagrado de gratidão e de comunhão natural com o “espírito” que rege o universo, passando ao ato profano de representação mística inventada pelo homem para justificar sua superioridade em relação á natureza.
Primeiro o homem se afasta da natureza que o cerca e de sua própria natureza e, então, cria através da dança artifícios para religar-se a estas.
Se não havia a escrita, o movimento talvez tivesse uma importância maior que a importância dada pela sociedade contemporânea.
A necessidade de movimentar-se pode ter sido essencial para a expressão e a comunicação cotidiana. Sendo assim, posso considerar a possibilidade de o movimento e a dança terem feito parte essencial na vida do homem pré-histórico.
Devo ressaltar que o homem ocidental tem um ponto de vista, um olhar impregnado de conceitos que determinam a dança como algo esteticamente acabado, esta idéia é determinada por parâmetros ocidentais, por exemplo, a dança clássica.
Se conseguirmos por um instante nos libertar desses parâmetros e reportar-nos ao passado, sem limitar nosso pensamento pelas determinações conceituais contemporâneas, fica possível crer que dançar era puramente um ato natural de expressão, movimento e vida. Assim, podemos supor que o homem pré-histórico dançava mais constantemente do que reconhecemos através dos poucos registros que a História, através da Historia da Arte nos apresenta.
A arte registrou. A História da arte trouxe para a dança as suas referências. Nós, amantes, praticantes, estudiosos dançantes concluímos a partir de nossas experiências e olhares, que Dançar é uma necessidade inerente ao homem!
Irielle Louise de Lima
Artista-docente
Referência bibliográfica: BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. Tradução: APPENZELLER, Marina. – 2ª Ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2001.